terça-feira, 7 de junho de 2011

Acho piada a este país...

...e acho piada por várias razões...umas pela positiva mas outras pela negativa.

Primeiro,comecemos "on the brightside".

Gosto muito deste nosso "rectângulo",muito mesmo,somos um país bonito,hospitaleiro,com um clima bom,boa gastronomia,bom vinho e cerveja,agradável e genuíno.

Temos bons clubes da bola,que,apesar de não terem o poderio financeiro de outros de Inglaterra,Itália e Espanha,compensam com uma boa gestão dos seus respectivos recursos e com estabilidade e competência,que se tem reflectido num bom desempenho "lá fora",nas competições europeias e mundiais. (1)

Temos personalidades que nos "representam" muito bem lá fora,em variadas áreas,sendo elas mais conhecidas,como é o caso de Mourinho,C.Ronaldo,Mariza,Joaquim de Almeida,Manoel de Oliveira,Souto Moura,José Saramago etc.,ou sendo elas portugueses(as) dito "anónimos(as)",mas que se distinguem nas suas áreas de eleição,como na ciência,na literatura,no teatro,na comunicação e afins,orgulhando assim a sua terra natal e elevando a nossa bandeira além fronteiras. (2)

Já mostrámos,por variadas vezes,ao mundo,que temos capacidade para organizar de uma forma convincente e competente qualquer evento cultural,político ou social a que nos propomos,tendo,inclusivé,ao longo dos anos,sido largamente elogiados por esses mesmos por várias entidades e países. (3)

Somos conhecidos também pela nossa capacidade de adaptação a qualquer meio e a qualquer língua,revelando boa desenvoltura,honestidade,trabalho e dando uma imagem de gente pacata e simples mas porreira e de bom trato. (4)

Somos um alvo apetecível na área do Turismo,devido não só à nossa situação geográfica previligiada mas também devido às nossas bonitas cidades carregadas de história e de histórias (passo a redundância),às nossas inúmeras e bonitas praias,ao nosso Turismo Rural que proporciona outro tipo de contacto com a natureza e com a cultura,e claro,devido também ao baixo custo para muitos "cámónes" que nos visitam,dado que têm maior poder de compra e que têm em Portugal preços muito acessíveis,ideais para desfrutarem de tudo o que temos para oferecer. (5)

Temos uma história riquíssima,marcada por séculos e séculos de conquistas,descobertas e feitos magníficos que engrandeceram e engrandecem ainda hoje a nossa identidade. (6)


....
Agora,a parte má.

Por onde começar?

Talvez escalpelizando os pontos que mencionei.

(1) Temos defacto,bons "clubes de bola" e com relativo sucesso lá fora,mas é pena que seja dos poucos ou talvez o único aspecto hoje em dia de que nos podemos orgulhar,servindo quase como uma "esmola" emocional e moral,que nos alegra e motiva de uma maneira tímida e muitas vezes insípida,não sendo suficiente,nem de perto nem de longe,para arrebitar e elevar a nossa auto-estima e confiança no futuro,dado que o estado do país é tão mau em tanto aspecto que tudo se desvanece em pouco tempo.

Junta-se a isso o facto de grande parte da população olhar para os clubes como albergue de corruptos,pessoas desonestas,instituições de lavagem e branqueamento de dinheiro e de serem demasiado protegidos pelo estado,estando muitos "acima da lei" e gastando dinheiro acima das suas possibilidades,também tendo em conta a realidade económica do país.

Rivalidades bacocas,violência desnecessária,jornalismo desportivo muitas vezes parcial e bolorento,picardias entre dirigentes e entre adeptos,inveja e ódio,são outros dos aspectos que mancham a integridade deste fenómeno no nosso país,e que muitas vezes transparecem negativamente lá para fora.

(2) Personalidades do nosso país envolvidos em casos de pedofilia,de burla,escândalos bancários,corrupção etc. ,são a antítese dos que mencionei mais acima,e que em nada beneficiam a nossa imagem,além de que,em muitos casos,nos prejudicam pessoalmente,arrastando a nossa credibilidade e honra pela lama,transformando este país numa autêntica "república das bananas" onde tudo passa impune e se põe de lado valores como a integridade,honestidade e coerência.

Havendo ainda tempo para,no meio disto tudo,se valorizar e dar atenção a certas personagens do "socialite" português,que não são mais do que personagens polarizantes de uma sociedade com falta de imaginação,bacoca e tacanha.

(3) Sim,já mostrámos várias vezes capacidade para organizar eventos de qualidade,mas por outro lado já presenciámos também muita vez a incapacidade de o fazer convenientemente,derivado da já nossa bem conhecida característica do fazer as coisas "ás três pancadas",que normalmente culmina quase sempre em,por exemplo,discrepâncias brutais nas contas que inicialmente estavam previstas e controladas,ou em infraestruturas que mais tarde se revelam mal construídas e elaboradas,ficando sujeitas a constantes remendos ou até mesmo em caso extremo,ao bota abaixo,ou ainda mesmo em questões de segurança,que foi insuficiente ou quase nula.

Em muitos casos,é preciso acontecer algo de mau ou algum imprevisto para se abrir os olhos e se fazer alguma coisa para corrigir e melhorar.
Sintomático.

(4) Em relação a este ponto nada tenho a apontar,porque defacto não o contesto,mesmo assim ás vezes parece que é preciso o pessoal ir lá para fora para demonstrar a sua faceta de bom falante,trabalhador e desenrascado...

(5) Somos um país bonito,sim. Temos características óptimas para qualquer estrangeiro que nos visite,sim. Potenciamos devidamente isso tudo,não.

A questão é que não apostamos devidamente e com clareza em melhores infraestruturas,melhores acessos,e mais e melhores veículos de promoção turística, que deviam ser medidas prioritárias,dado o Turismo ser dos nossos maiores atractivos e das nossas maiores fontes de rendimento.

Basta olhar para os nossos vizinhos do lado para reparar que eles,nesse aspecto,estão a anos luz de nós,com uma organização de promoção e divulgação equilibrada e formatada de uma maneira coerente e bem distribuída.

O nosso país não pode ser só praia e esplanada com tremoços e cerveja como costumo dizer,tem que haver uma união de esforços também entre autarquias e governo para uma plano atractivo que revitalize e potencie os recursos,a cultura e o meio de cada aldeia,vila,cidade ou região,no sentido de criar uma "teia" bem montada de rotas,infraestruturas,produtos que proporcionem uma óptima base para o lazer e para o desfrutar de quem procura.

O centralismo exacerbado e a abusiva concentração de poderes praticamente num só ponto do país,no meu ponto de vista,contribui negativamente para a concretização do que deveria ser feito e para a tal união de esforços de que falei.

A falta de verbas também é um entrave compreensível,principalmente no contexto económico actual,mas por outro lado,além de muita coisa poder ser feita sem grande esforço financeiro mas sim com imaginação e vontade,seriam medidas que seriam obviamente investimentos a médio-longo prazo,com dividendos futuros,desde que bem elaboradas e apoiadas claro está.

(6) Temos uma história riquíssima,épica até,e que nos orgulha a todos,mas os tempos são outros,e não podemos ficar apegados ao que foi ou ao que podia ter sido,apelando constantemente ao nosso já típico saudosismo,e afirmando volta meia volta que "já fomos tão grandes.." e "se fosse no tempo do outro isto ia para a frente..".

Portugal passou por uma ditadura de repressão,censura e relativa estagnação,que de certa maneira nos atrasou e abstraiu do resto do mundo num vibrante "orgulhosamente sós",apesar de algumas pessoas serem da opinião que,esta época,também teve os seus pontos positivos e relevantes,mas isso são contas de outro rosário e não me alongarei nessa discussão.

O que é facto é que muitos dos nossos companheiros europeus também presenciaram durante muitos anos regimes ditatoriais,muitos deles com verdadeiras guerras civis,e num grau ainda mais violento,repressivo e até demente do que o nosso,mas com a diferença de que conseguiram ultrapassá-los gradualmente,com maior ou menor dificuldade,enquanto que Portugal continuou em muitos aspectos apegado a demasiados "fantasmas" do regime do estado novo,além de que viveu muitos anos a reboque dos dinheiros da união europeia,dinheiros esses que aliás foram mal geridos e aplicados.

Isso,juntando às constantes más governações ao longo dos anos,resultaram num acumular de tensões sociais,económicas e culturais que até hoje ainda perduram.


Não votei.

Não foi de maneira nenhuma por preguiça,nem "desisti do país" como muitos dos nossos políticos sedentos de poder e tacho dizem para rotular os que não votam,o que aliás,é curioso,já que,a maior parte das vezes são esses mesmo políticos a desistirem dele quando vêem a coisa um bocado para o turvo.

Simplesmente não acredito neste sistema político,que não é mais do que um sistema bipartidário e ditatorial,onde abunda a prepotência e a ganância,uma democracia de fachada e camuflada,onde em vez de se encontrar soluções para o bem do país se verifica o garantir de tachos,postos,reformas chorudas e regalias para "boys",amigos e compadres,onde os partidos são encarados pela população como clubes de futebol,impedindo a afirmação e evolução de outros,muitas vezes por "herança familiar",por tradição ou por pura casmurrice e tacanhez.

"E porque não votas tu então nos partidos ditos mais pequenos?" Perguntarão.

Votaria de bom grado e em plena consciência,se sentisse que defacto o povo estaria em sintonia nesse aspecto,e se eu,da minha parte notasse uma mudança de mentalidade e de vontade de dar uma abanão a este sistema de alguma maneira.

Mas não é isso que mais uma vez verifico infelizmente.

É engraçado que fartamo-nos de ver na TV milhares de manifestações,de protesto,de greves,de revolta contra o estado das coisas,que são todos iguais,que isto tem que mudar,que isto e aquilo,para depois chegarmos ás eleições,onde defacto,as pessoas podem "vocalizar" o seu descontentamento e marcar uma posição de revolta e querer de mudança,e se verificar que afinal a mentalidade continua a mesma e,consequentemente,o sistema continua o mesmo,só mudando,de acordo com o tal bipartidarismo vigente,a cor...e não me venham com a velha ilusão do chamado "voto útil",que isso para mim não é mais do que mandar areia para os olhos do eleitorado.

Sou apartidário,faço mesmo questão de o ser nos dias que correm,no entanto,tenho para mim que se podem tirar medidas e ideais importantes de cada um deles,tendo por base um diálogo e uma união de esforços essenciais no sentido de trabalhar em prol deste país,e não cada um puxando para seu lado,num orgulho partidário bacoco e interesseiro,argumentando uma falsa pluralidade democrática e de debate,que em nada abona e beneficia o que verdadeiramente interessa : o progresso e o bem estar de Portugal.



A eterna pergunta do Palma continua a fazer sentido...

1 comentário:

  1. Discordo que a História de Portugal seja assim tão rica e até épica, como dizes. Houve momentos com os quais me sinto satisfeito, sem dúvidas, mas para mim Portugal começou a apodrecer ainda no século XIV, com o final do governo do rei Dinis, o único que fez alguma coisa decente pelo desenvolvimento sustentado, nos planos económico e social, deste país. Os 90 anos que separam o fim desse governo do início da expansão (1325-1415)foram marcados pela erosão de alguns dos feitos, positivos, realizados até então (por Dinis e pelos governos anteriores). E depois entra a expansão, que definiu, até hoje, Portugal como um país atrasado, sem planos e estratégias de futuro, sem produção, começando aí a "terciarização" da economia nacional (o que se transpõe, quando falamos de largos séculos, para a ideia e mentalidade social).
    Portugal é um país, em termos sociologicos, monárquico e onde há pouca, ou nenhuma, iniciativa popular. Mesmo nos momentos de grande demonstração de força colectiva das classes exploradas (crise de 1383-85, transição da Monarquia para a República e PREC), essa força só se verificou, na generalidade, indo a reboque dos anseios das classes possuidoras (até no Regicídio tiveram que ser os burgueses a tomar a iniciativa). Isso é notório desde o 25 de Abril, em que se verifica uma classe trabalhadora totalmente manietada por partidos que vão contra os seus interesses, sindicatos pouco mais que formais e sem ponta de combatividade social e instituições públicas (sobretudo as judiciais) viciadas.
    Eu voto, voto CDU porque vejo o PCP e sua social-democracia radical como o mal-menor. Entendo que o aumento da representação da esquerda parlamentar pode estancar a sangria dos direitos sociais e laborais que verificamos. Entendo, no entanto, o abstencionismo militante. Votar pode ser entendido como o caucionar de um sistema falhado e, pior, criminoso. É, também. Mas não deixo de dar a minha palavra, e entendo o voto num partido minimamente fora do sistema e, acima de tudo, sem nenhuma culpa directa do estado actual como, lá está, o mal menor.
    Não sou patriota, pelo contrário. Sou Internacionalista e auto-designo-me apátrida. Não tenho qualquer orgulho em ser Português. Não canto o hino, não faço juramentos de bandeira, nem sequer apoio a selecção de futebol. As fronteiras foram feitas pelos ricos e as bandeiras são os lenços onde os seus soldados limpam o suor. Os trabalhadores, os explorados, não têm pátria. Aliás, se o patronato não tem... O mais próximo que tenho de "pátria" será o meu clube e a língua Portuguesa. No entanto, e já que aqui vivo, já que aqui pago impostos, devo fazer o melhor que posso e sei para a transformação radical disto, sempre na perspectiva de que os outros povos o façam. Assim, luto. E o problema é mesmo esse, o patriotismo. Porque enquanto esse cancro social continuar a existir, enquanto as massas não se aperceberem de que ele faz cada vez menos sentido (Portugal há muito que perdeu a sua soberania política e económica), enquanto não se libertarem das amarras que são esses conceitos e ideias totalmente ultrapassados, nada avança. E não avança nem "o país", nem o Mundo.

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